Manejo da transferência e o ato analítico na neurose
- Fórum do Campo Lacaniano de Florianópolis

- 24 de nov.
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Atualizado: 28 de nov.
“[...] transfiro para o analista, mas a carência grita e a neurose é difícil de suportar, ele insiste em falar de profundidades, mas meu coração desconhece imersão acostumado a encontros casuais não há profundidade se o amor só vive transitando [...] (OLIVEIRA, Jairo Carioca. 2022, p. 12).
A transferência é um conceito em psicanálise, e ocupa espaço fundamental, posição indispensável à análise psicanalítica. Dito de outra maneira, não há análise em psicanálise, sem ter havido, antes, transferência. Ilustrando um pouco mais o tema é possível fazer analogia à uma dobradiça (a dobradiça liga a porta ao batente e no ligar-se faz um movimento de abrir e fechar). Desta forma, a transferência é algo que “liga” o paciente ao analista, bem como, o analisante ao seu sintoma.
Como efeito, nesse processo, se dá a repetição de complexos infantis. O paciente coloca no analista a conta a ser paga, isto é, a responsabilidade do que sente, exigindo uma resposta ao seu sofrimento. Ademais, quando em análise, o paciente chega próximo de algo hora recalcado e que causa seu sintoma, possivelmente, poderá aparecer a resistência, e esse processo pode ocorrer repetidas vezes no acontecer analítico.
Freud (2020), indaga-se sobre o porquê de a transferência estar a serviço da resistência, uma vez que, pelo método de associação livre (única regra da análise) deveria o analisante dizer tudo que viesse a mente sem privações de palavras e assuntos, sendo eles de qualquer natureza possível. Nesse sentido, em um primeiro momento Freud, acreditou que a transferência, seria um obstáculo à análise. Também distinguiu a transferência em dois modos de atuação: transferência positiva e transferência negativa, passando de transferência para transferências.

Portanto, a transferência está a serviço da resistência em análise quando é direcionada para o psicanalista impulsos eróticos reprimidos na transferência positiva e/ou negativa, isto é, o paciente demonstra ao analista sentimentos de admiração, ternura, entre outros afetos cuja a natureza destes são afáveis; e enquanto transferência negativa, o paciente reproduz sentimentos de disputa, raiva, entre outros que se pode dizer – hostis como demonstra Freud (2020).
Para Sédat (2011):
Quando o homem dos ratos chamou Freud de “meu capitão”, ele estava em plena regressão, em busca de reencontros com o capitão cruel. Ele quer então reencontros com a cena do crime, com o personagem de sua história que o afetou no passado. A transferência constitui, pois, uma regressão, um abandono à posição de pequena criança para qual tudo dever ser feito, e que, além disso, impõem o que deve fazer para ela. (SÉDAT, J. 2011, p. 96).
Então, conclui Freud (2020), algo fez com que houvesse a introjeção da libido, e em análise busca-se resgatar a libido introjetada, fazer com que volte a estar acessível a consciência. Nesse ponto que o manejo da transferência por parte do analista faz seu ato, em se deparar com tal libido apanhada inicia-se uma disputa, as forças que causaram a regressão da libido se apresentarão como resistência, sendo a resistência, um impasse no processo de análise e não a transferência (FREUD, 2020).
Assim, a resistência pode ser diluída através do manejo clínico da transferência. A ambivalência das emoções sentidas pelos sujeitos - dito neurótico, justifica-se na capacidade de colocar a transferência em função da resistência. Entretanto, cabe ao manejo clinico lidar com os impactos da resistência, produzindo através dela - o ato analítico.
Referências:
FREUD, Sigmund. Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
SÉDA, Jacques. Compreender Freud. São Paulo: WMF Martins Fontes Editora, 2011.
OLIVEIRA, Jairo Carioca. Das coisas sem importância sobre aqueles dias que serão esquecidos. 01. ed. Brasil: Amazon, 2022.
Jonathan Leite da Costa
Membro do Fórum do Campo Lacaniano de Florianópolis




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